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A Análise de Valor e sua aplicabilidade na gestão de materiais/bens

Escrito em: 29/11/2020

É possível que alguns leitores ao depararem com esse título façam alguns dos seguintes questionamentos: “O que é análise de valor?”, “Nunca ouvi falar nisso?”, “Análise de que tipo de valor ela se refere?”, ”Será alguma novidade que surgiu em função da pandemia?”.

Outros poderão recordar-se de que lá por volta dos anos 80 utilizava-se essa técnica para estudos de redução de custos.

 

Alguns também poderão lembrar-se que paralelamente à utilização das chamadas “técnicas japonesas” (KANBAN, JUST-IN-TIME, CCQ, TQC, KAISEN, Perda Zero, etc.), também era empregada a Análise de Valor. Mas para muitos, isso tudo “já está fora de moda”. Na época, foi uma das ferramentas auxiliares do famoso “milagre japonês”.

 

Independente desses questionamentos, vamos iniciar este artigo voltando às origens dessa técnica, explicando o seu funcionamento e algum tipo de aplicabilidade na atual gestão de materiais e bens.

 

A Análise de Valor, também conhecida como Engenharia de Valor é uma metodologia criada por Lawrence D. Milles,  na General Electric – EUA, no período de 1945 a 1947, para fazer frente à escassez de matérias-primas ocasionada pela 2ª Guerra Mundial. Tem como objetivos principais: descobrir materiais alternativos e desenvolver novas tecnologias com redução de custos sem qualquer prejuízo da qualidade do produto.

 

A partir dos anos 70 sua utilização em países industrializados foi muito grande e com excelentes resultados técnico-econômicos. No Brasil, além da área industrial, na época, muitos órgãos governamentais também adotaram essa técnica com resultados bastante satisfatórios.

 

Atualmente, muitas Universidades e Faculdades brasileiras, como a FGV, Unicamp, UFSC e outras, já incorporaram a Análise e Engenharia do Valor no curriculum escolar dos seus cursos de graduação e pós-graduação em: Engenharia de Produção, Gestão da Qualidade, Mecânica, Automobilística, Ambiental, Economia, Administração de Empresas e Gerenciamento de Projetos.

 

Em dois mil e dezenove vários eventos na forma de seminários e cursos foram realizados como: o Seminário de Engenharia e Análise de Valor na SINFRA – Secretaria de Infraestrutura e Logística do Estado de Mato Grosso, em Cuiabá; Seminário de Inovação, Qualidade e Engenharia de Valor na UFPB – Universidade Federal da Paraíba, e muitos outros.

 

Existe também, com sede em Campinas, Estado de São Paulo, a ABEAV – Associação Brasileira de Engenharia e Análise do Valor, que é uma associação profissional sem fins lucrativos, cujos objetivos são:

 

  • Promover o progresso da Análise e Engenharia do Valor através de um melhor conhecimento dos seus conceitos e métodos;

  • Divulgar os conceitos e métodos da Análise e Engenharia do Valor através de eventos e periódicos;

  • Divulgar resultados obtidos com a aplicação de técnicas da Análise e Engenharia do Valor em empresas públicas e privadas;

  • Promover a conscientização de profissionais que se interessem pelo uso e aplicação da metodologia;

  • Difundir a metodologia da Análise e Engenharia do Valor em universidades e faculdades;

  • Filiar-se e se fazer representar em entidades internacionais congêneres e similares.

 

Passando para os conceitos da Analise de Valor, ou Análise do Valor ou ainda Engenharia de Valor, vamos observar que:

 

a) Finalidade básica da AV

- Reduzir custos;

- Melhorar a qualidade;

- Aumentar a produtividade;

- Contribuir para a evolução tecnológica;

- Descobrir novas alternativas;

- Contribuir para a nacionalização.

 

b) Principais características da AV

 

A AV diferencia-se dos métodos tradicionais utilizados em racionalização por apresentar:

 

- Um pensamento e espírito analítico dirigido às funções do produto, sistema ou serviço;

- Um trabalho sistematizado;

- Um esquema de trabalho em equipe;

- Uma grande utilização da criatividade;

- Um espírito de integração das mais diversas áreas da organização.

 

c) Enfoque da AV quanto ao custo do objetivo

 

A principal diferença entre AV e as técnicas tradicionais de redução de custos é que:

 

- os métodos tradicionais procuram identificar onde o custo se localiza:

- matéria-prima;

- componentes;

- mão-de-obra;

- despesas gerais.

 

A AV investiga o porquê ou para que o custo existe:

 

- na função principal;

- nas funções secundárias;

- nas funções desnecessárias.

 

Nos casos dos métodos tradicionais deparamos com exemplos do tipo:

 

- despede-se a faxineira;

- suspende-se o cafezinho;

- “traga a sua caneta de casa”,

 

Que nos lembram daquela célebre frase “fazer economia de palito ou de guardanapo de papel em banquete de caviar”, que não reduzem nenhum custo significativo dentro do processo.

 

Já com o estudo das funções e com a investigação do porquê e de para que o custo existe, haverá, sem dúvida maior precisão na análise.

 

Definindo-se “função”, teremos: é a atividade, tarefa, ou tarefas, desempenhada por um produto, sistema ou serviço com o objetivo de atender as necessidades do usuário.

 

Para efeito dessa análise, é importante que consigamos associar um verbo a um substantivo.

 

Ex.:

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d) Tipos de função – são seis as funções da AV:

 

- Principal (básica ou primária);

- Secundária (ou auxiliar);

- Necessária;

- Desnecessária;

- De uso;

- De estima.

 

Obs.: deve-se ressaltar que em qualquer produto, sistema ou serviço existe apenas uma função principal, podendo haver “n” funções secundárias.

 

Função principal (básica ou primária) é aquela para a qual o objeto foi concebido, fabricado ou adquirido, ou seja, caracteriza a sua finalidade primordial.

 

Ex.:

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Função secundária (ou auxiliar) é aquela que existe para apoiar a função principal ou para aumentar o valor do objeto.

Ex.:

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Função necessária é aquela, como o próprio nome já define, necessária ao desempenho do produto.

 

Obs.: em um estudo de AV, considerando-se diversos componentes de um produto, muitos deles poderão apresentar função necessária. Neste caso, esta deverá ser priorizada.

 

Ex.:

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Função desnecessária é aquela que não influi no desempenho do objeto, ou seja, não traz nenhum benefício para o usuário.

 

Obs.: A identificação dessa função e sua consequente eliminação é a primeira tarefa do analista, pois garante de imediato uma redução de custos.

 

Ex.:

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Função de uso é aquela que expressa atividade ou tarefa técnica ou básica de um objeto.

 

Ex.:

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Função de estima é aquela que expressa uma tarefa econômica de venda/compra, que provoca o desejo de posse, para adorno, estética, prestígio, etc.

Ex.:

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Para efeito de levantamento das funções poderá ser usado um quadro explicativo ou uma planilha do tipo:

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Onde:

 

P = Principal

S = Secundaria

N = Necessária

D = Desnecessária

U = de Uso

E = de Estima

Ex.: Apontadeira telescópica para projeção (desdobrada)

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Em seguida serão atribuídos valores a cada um dos componentes, para o complemento da análise:

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Obs.: Nesta etapa deverá ser feita uma análise detalhada dos custos dos componentes e sua correlação com a classificação das funções. Agrupados os custos, teremos uma identificação das funções críticas em termos de valor, que comparados com o objetivo pré-fixado darão uma visão para a procura de alternativas.

 

Houve um período em que também a Análise de Valor foi adaptada a procedimentos rotineiros e burocráticos, no intuito de se chegar às causas prováveis e às alternativas de solução para esse tipo de problema.

 

Como exemplo, está sendo apresentado um caso real de um problema de preços médios unitários que, em função da forma de tramitação e processamento se tornavam superestimados, “mascarando” os saldos de uma conta cujos valores não deveriam ser muito significativos, por se tratarem de itens da sucata.

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Em termos de aplicabilidade às nossas atividades de material e patrimônio, muitas adaptações poderão ser feitas, no intuito de serem detectados problemas ou procedimentos incorretos, que venham refletir no bom andamento das nossas atividades.

 

Como exemplo, podemos encontrá-los em:

 

- Termos de Responsabilidade desatualizados;

- Grande quantidade de bens sem plaquetas;

- Itens encontrados e não cadastrados por ocasião de inventários;

- Itens cadastrados e não encontrados por ocasião de inventários;

- Inservibilidade de itens;

- Saneamento de estoques (em função da sua não-movimentação);

- Frequência de remessa de bens para conserto;

- Outros.

 

Exemplo de emprego da Análise de Valor:

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Outro ponto importante da aplicabilidade da Análise de Valor nas nossas atividades é aquele ligado à avaliação de materiais/bens.

 

Sabemos que muitas vezes precisamos avaliar ou reavaliar bens ou para inseri-los no nosso patrimônio ou pare efeito de processos de alienação ou ainda, para efeito de iniciar um processo de depreciação contábil, uma vez que determinados itens se apresentam com valores defasados para mais ou para menos. Caso de veículos adquiridos, por exemplo, há alguns anos por R$ 40.000,00 e cujo saldo se apresenta igual, pois nunca se calculou a sua depreciação ou de itens que se apresentam com o saldo de R$ 0,01 devido seu valor original ter sido reduzido em função dos planos econômicos, ao longo da sua vida útil.

 

Caso essa necessidade de avaliação ou reavaliação ocorra, independente da utilização de fórmulas matemáticas, às vezes deparamos com bens ou equipamentos em que algumas partes, individualmente teriam um valor maior que as outras. O estudo das sua funções, de acordo com a análise de valor (principal, secundária, necessária, desnecessária, de uso, ou de estima) poderá nos levar a valorar de forma diferenciada cada um dos seus componentes, afetando o valor total do conjunto.

 

Por exemplo, em uma motocicleta teremos como função principal o motor (impulsionar o veiculo). Logo, podemos atribuir no processo de avaliação um valor maior para ele, inclusive seu funcionamento (funciona, não funciona, desmontado, etc.). O tampo de cristal de uma mesa poderá, na função de estima, por exemplo, valer mais que os pés ou a base.

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